segunda-feira, junho 26, 2006

O Aleph de Pablo Neruda

É sabido que Borges e Neruda sempre se detestaram. O mais conhecido conto de JLB, «O Aleph» aprova esta opinião. «No fundo, sempre nos havíamos detestado», diz Borges acerca de Carlos Argentino, que é a personagem-caricatura de Neruda: «rosado, grande, encanecido, de traços finos».
N’«O Aleph», que a dado momento da história nos parece um thriller, pelo suspense da alquimia, Carlos Argentino anda a escrever um «Canto Augural, Canto Prologal ou simplesmente Canto Prólogo». Este longo poema abre as comportas da imaginação para todos os pontos do planeta, intitulado por isso «A Terra». Há assim claramente nesta referência uma crítica mordaz ao Canto General.
Encurtando razões que levaram esses dois Poietés da poesia universal (Neruda e Borges) e, particularmente, da América Latina depois de Ruben Dário, a detestar-se, não poderemos contudo deixar de pensar que na obra magistral de Neruda, Residencia en la Tierra, existe de facto o «aleph». Ora este é um dos pontos do espaço que contêm todos os pontos, do mesmo modo que as residências de Neruda desde o Chile, Argentina, Sri Lanka, Indonésia a Espanha, suportam toda a ambição filosófica da cosmovisão do poeta. Três continentes que o poeta enlaçou e onde, durante um período de 10 anos, desde 1925 a 1935, escreveu Residencia en la Tierra.
Residência na Terra sete décadas depois é a versão portuguesa de José Bento, publicada este mês na íntegra pela Relógio d’Água.

#
Amanhã editaremos um dos mais belos poemas dessa obra. No original, o Ángela Adónica.
#
Vinieron después ( dos «Vinte Poemas de Amor...») las dos primeras partes de “Residencia en la tierra” [1933-1935]. ¡Qué cambio! Todavía emerge en este libro, con el mismo lenguaje, la muchacha, - poética por supuesto, no sé si real -, de los “Veinte poemas,” ya desde la ausencia y la nostalgia de “Madrigal escrito en invierno” y “Fantasma,” ya desde la erótica contemplación de “Ángela Adónica” : “Hoy me he tendido junto a una joven pura / como a la orilla de un océano blanco.” (Ricardo Navas-Ruiz)

Sem comentários: