quinta-feira, setembro 27, 2007

Babel



Em todas as palavras havia
somente uma língua
Peter Bruegel, o Velho, pintou
Babel
Construída entre palavras
e homens de braços armados
A confusão
que Bruegel não viu
na sua pirâmide inacabada
com um golpe de nuvens
Agora tinha o mundo inteiro uma linguagem.

25/9/2007

terça-feira, setembro 25, 2007

Ópera na Rua em Nova Iorque



A Grande Noite na Ópera

«Opera fans took seats in Times Square on Monday night to watch a live transmission as the Metropolitan Opera opened its season with “Lucia di Lammermoor.”»
in The New York Times

quinta-feira, setembro 20, 2007

Esquecimento

Um dia esquecerão o queixo
submerso na barba,
outro dia a distância
entre as lentes sujas
dos óculos e os olhos,
mais tarde
os olhos sem ninguém.
A seguir a um dia de sol
falarão do vento,
que já não arrasava os cabelos;
depois, que os poemas
devem estar por aí, desiguais
silenciados,
noutro dia
um perfume alheio
fará dúvidas se era esse.
Ao nome, num dia já distante,
começará a faltar um apelido,
nenhum morfema
tomará nosso lugar.

20/9/2007

quarta-feira, setembro 19, 2007

Desaparecido

Sempre que leio nos jornais:
«De casa de seus pais desapar'ceu...»
Embora sejam outros os sinais,
Suponho sempre que sou eu.

Eu, verdadeiramente jovem,
Que por caminhos meus e naturais,
Do meu veleiro, que ora os outros movem
Pudesse ser o próprio arrais.

Eu, que tentasse errado norte;
Vencido, embora, por contrário vento,
Mas, desprezasse, consciente e forte,
O porto do arrependimento.

Eu, que pudesse, enfim, ser eu!
-Livre o instinto, em vez de coagido.
«De casa de seus pais desapar'ceu...»
Eu, o feliz desapar'cido!

(Carlos Queiroz)

terça-feira, setembro 18, 2007

O Tempo que passou



3ªEdição, 1957

«OPINIÃO SOBRE «DESAPARECIDO», DE CARLOS QUEIROZ»

«Não se pode dizer deste livro o que é vulgar dizer-se, elogiosamente, de um primeiro livro, sobretudo de um jovem:- que é uma bela promessa.O livro de Carlos Queiroz não é uma promessa, porque é uma realização.(...)Pertence ao mais íntimo da probidade literária e artística o não se apresentar ao público sem ter plena consciência de que na obra apresentada está tudo quanto em nós haja de forte.»

Fernando Pessoa

# Amanhã, publica-se aqui o poema-chave deste livro: Desaparecido

sexta-feira, setembro 14, 2007

Edmond Jabès, poeta egípcio-judeu



Poema

Deixei uma terra que não era a minha
por outra à qual também não pertenço.
Refugiei-me num vocábulo de nanquim,
e tenho o livro como espaço;
palavra de lugar nenhum, obscura fala do
deserto.
Não me cobri durante a noite.
Nem mesmo tentei me proteger do sol.
Andei nu.
De onde eu vinha, não fazia mais sentido;
Aonde eu ia não incomodava ninguém.
Vento, digo-lhes, vento.
E um pouco de areia no vento.

(Tradução de C.M)

sábado, setembro 08, 2007

As raparigas da Calle d'Avignon




Tal como Picasso o fez, os olhos
maiores do que a cabeça, estendendo
os corpos primitivos,
as Demoiselles para o espectador,
eu vi isso com minha mulher
no verão de 1991,
em Nova Iorque suspensa
na humidade do calor,
animada e intacta numa sucessiva onda
de ar, a alma
das raparigas da Calle d’Avignon
a fundar-se a si mesma.

segunda-feira, setembro 03, 2007

Alberto de Lacerda( 1928-2007)



Edição de 1963

Exílio

O exílio é isto e nada mais
Na sua forma mais perfeita:
Hoje na terra de meus pais
Sòmente a luz não é suspeita.

domingo, setembro 02, 2007

O Tempo que passou



Edição de 1970


Poema do Beco

Que importa a paisagem, a Glória, a baía, a linha do horizonte?
-O que eu vejo é o beco.

(Manuel Bandeira)