quarta-feira, maio 23, 2018

O ALMOÇO DO TROLHA, 1947, JÚLIO POMAR (1926-2018)





O trolha ao regressar a casa leva as paredes

Da casa que está a erguer, nos olhos

Restos de cimento que secam as lágrimas

Regressa a casa numa rua que um rio refresca

Um quarto e um fogão de lume brando

Uma cama onde recolhe as mãos gastas

Com as linhas da vida gastas das arestas

Dos tijolos. Entre o colo da mulher

Um filho nos seus olhos, o trolha come

A parca sopa do descanso, o pão

Misturado no sangue do seu vinho.


22/05/2018
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